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A acidez do mergulho (Parte VII)...

por Tomates e Grelos, em 04.03.15

"Como? Como é possível? Não pode ser!!"

 

Endireita as costas, põe a cara mais sóbria que lhe é possível e, tenta disfarçar o embaraço!

 

- André, passa-se de alguma coisa?

 

André não consegue esconder um ligeiro esgar! Não era escárnio, era safadeza mesmo.

 

- Esqueci-me que tinha um convite para lhe entregar.

 

"Será que ele ouviu alguma coisa? Não pode ter ouvido, eu fui extremamente cuidadosa."

 

- Um convite convite para mim? De que se trata?

 

"Eu podia jurar que te ouvi gemer. Apostava o meu salário em como alguma coisa tu fizeste."

 

- A L'Oréal está a promover um evento dedicado aos seus principais distribuidores, onde haverão algumas surpresas e gostava de contar com a sua presença.
- Podia tê-lo deixado com a Marília.
- Acha que eu ia perder uma oportunidade de a ver de novo?.

 

Mariana corou. Não conseguia afastar da ideia que ele a tinha ouvido ou que, pelo menos, suspeitava de alguma coisa. Não obstante, isso não a intimidava tanto quanto seria de esperar. Pelo contrário. O tesão que André lhe tinha provocado era agora alimentado por um sentimento de curiosidade. O que estaria ele a pensar? Qual seria o interesse dele nela? Era sexual? Queria subjugá-la nos negócios através da cama? Atracção? Curiosidade? Entretenimento? Não saberia ele, porventura que ela era casada? Mãe? Tinha discutido, por diversas vezes, com Joana sobre o pico sexual das mulheres. Crê-se que elas atinjam o seu aos 30 mas, quer ela, quer Joana, concordaram que o pico sexual da mulher é, na sua idade actual, constante. Essa era a experiência de ambas, embora se sentisse a definhar lentamente. Fosse pelo trabalho, fosse pela família, fosse pelo que fosse, sentia uma necessidade de alimentar o seu mais primitivo desejo. Será que isso se nota? Transpareceria isso para André? E para os outros?

 

- Não vejo a necessidade de se dar à maçada de se deslocar até aqui. As assistentes servem para isso mesmo.
- A Mariana é a minha cliente favorita, não é maçada nenhuma.
- Cliente? Pensei que fosse parceira de negócio... Afinal a L'Oréal só me vê como um mero distribuidor.
- Não diga isso. Sabe bem que nutro uma grande admiração por si.
- Por mim? A que propósito?
- Uma mulher culta, atraente, bem sucedida, inteligente...
- ...casada...

 

Por momentos, um silencio sepulcral instalou-se entre ambos. Porque raio foi ela dizer aquilo? Ela, envergonhou-se, ele ficou sem palavras. Embasbacados, os segundos pareceram horas, cruéis inimigos dos surpresos, dos que ficam sem jeito. Alguém tinha de pôr um fim àquele sofrimento sem nexo. Quem mais poderia ser?

 

- Obrigado pelo convite. Farei os possíveis para estar presente.
- Teremos muito gosto em recebê-la. Toda a informação está aí. Se tiver alguma dúvida, estamos à disposição.
- Obrigado.
- Boa tarde. Bons negócios.
- Até à próxima.

 

 

Está proibida a cópia, reprodução ou transcrição, parcial ou completa, na íntegra ou baseada em, sem expressa autorização do autor!

publicado às 15:13

A acidez do mergulho (Parte VI)...

por Tomates e Grelos, em 27.01.15

"Que barulho é este?" - pensou.

 

O medo paralisou-a. O que se estaria a passar? Encolhe-se. Estaria alguém por ali perto? Treme com a possibilidade. E o pai e a mãe? Espreita para fora dos lençóis. Será que não ouvem nada? A cabeça já de fora. E se forem ladrões? Aninha-se.

 

"Mariana, já tens 12 anos. Caramba, já não podes andar com medo de monstros de baixo da cama." - vociferou mentalmente. "Se há alguém cá em casa, temos de ir acordar o pai. Ele safa-nos desta, de certeza. O paizinho é capaz." - decidiu-se.

 

Lentamente, destapou-se. Rodou o corpo até estar deitada de lado e esperou alguns segundos. Ergueu-se e ficou sentada na cama, até ter certeza que os ladrões não a tinham ouvido. Pôs os pás no chão, calçou os chinelos e levantou-se. As molas rangeram e temeu pela sua vida. Nada. Os barulhos continuavam. À medida que se aproximava da porta do quarto, os barulhos tornavam-se mais nítidos, ainda que continuassem abafados. Não são passos, concluiu.

 

"Alguém deve andar à procura nas gavetas dos papéis do pai." - teorizou. "Eu já o ouvi falar desses bandidos que tentam fazer mal aos outros, só porque temos dinheiro." - assumiu.

 

Encosta a cabeça à porta, entreaberta, e escuta...

 

"Não são papéis... Que estranho! Vem do quarto da mamã."

 

Menos amedrontada, reconhece o barulho.

 

"Então, isto é o mesmo barulho que o meu colchão fez quando eu me levantei." - aliviou-se. "Porque é que eles haveriam de estar aos saltos na cama a esta hora? Eu não posso, e eles esperam que eu vá dormir para o fazerem!" - sentiu-se injustiçada. "Só há uma coisa a fazer: confrontá-los. Isto assim não vale." - decidiu-se. "O paizinho é que pode ficar chateado...e se fico de castigo?" - ponderou.

 

Atrevida, decidiu avançar, ainda sem saber bem o que fazer. Pé ante pé, foi ficando mais próximo do quarto dos pais. Era notório, à medida que avançava, que não estavam só a assaltar em cima da cama. Estavam claramente a fazer barulho também, porém abafado, estranho, imperceptível de distinguir entre dor ou prazer. O mistério adensava-se e Mariana estava determinada em resolvê-lo. Já tinha dobrado a esquina do seu quarto e estava agora no corredor comum, com acesso a todos os outros quartos. Estava escuro, mas havia alguma visibilidade permitida pela noite de luar, que se fazia notar através da janela horizontal superior, o que fazia com que se pudesse movimentar sem tropeçar ou bater nas paredes. Como de costume, a porta do quarto dos pais estava entreaberta. Nunca a fechavam e não permitiam aos filhos que o fizessem. "As portas cá em casa não têm chave." - dizia sempre o Dr. Figueiredo, com voz autoritária que ninguém se atrevia a desafiar. Mariana tremia, num misto de medo e de curiosidade, sem saber o que esperar, com medo de ser apanhada, desejosa de desvendar o mistério. À medida que se aproximava, o barulho tornava-se mais claro, mais nítido, mais distinguível.

 

"Gemidos?" - indagou incrédula.

 

Não teve coragem de espreitar. Os pais estavam claramente acordados e qualquer movimento na porta seria razão suficiente para ser apanhada. Aqueles gemidos abafados eram estranhos mas ao mesmo tempo interessantes. Entranhavam-se. Não eram de dor, eram de alguém que está a gostar do que está a fazer, de divertimento, à falta de melhor vocabulário em idade de pré-adolescência.

 

"O que é que eles estarão a fazer?" - a sua mente fervilhava de curiosidade.

 

Se pudesse, irrompia pelo quarto adentro e acendia a luz de repente. Que raio estariam eles a fazer, que era divertido e que se assemelhava a alguém a saltitar em cima da cama?

 

"Mariana!" - sussurrou Francisco. "Mariana!" - repetiu.

 

Mariana quase denunciava a sua presença, tal era o susto que acabava de apanhar. Por entre gestos, perguntou ao irmão o que é que ele queria. Ele olhou-a de soslaio e com ar ameaçador, transparecendo claramente a sua ordem. Mariana, apesar de desafiadora, nem esboçou reacção. Pé ante pé, retomou pelo mesmo caminho que a trouxe. Não se pense por um segundo que isso fez com que a sua curiosidade se tivesse alterado. Muito pelo contrário. Estava ainda mais aguçada. Fitava o tecto e não parava de pensar no que é que Francisco saberia a mais que ela. Sim, o irmão era a chave para deslindar este mistério e, ele que não pensasse que ela se iria esquecer.

 

Manhã. Levantou-se a correr para o pequeno-almoço, na esperança de se encontrar com o irmão mas, ele já tinha saído para a escola. Logo hoje, logo hoje tinha de começar as aulas antes dela. Não interessa, na escola não lhe escapava.

 

Procurou-o logo no primeiro intervalo que teve oportunidade.

 

- O que é que se passou ontem? O que é que o Pai e a Mãe estavam a fazer?
- Nada da tua conta.
- Quero saber?
- Não são coisas que tenhas de saber.
- Mas eu quero. Eles estavam a divertir-se aos pulos na cama, que eu bem ouvi

 

Francisco não se conteve na reacção e riu-se perdidamente, o que apenas serviu para enfurecer ainda mais Mariana. Era mais nova que Francisco mas nem por isso se coibia de o desafiar, sempre que achasse que existia margem, mesmo que muito reduzida.

 

- Vais-me contar ou tenho de ir perguntar ao Pai e à Mãe?
- Não te metas em coisas que não são para a tua idade.
- Mas eu quero saber!
- Um dia vais saber, mas não hoje.
- Quando?
  Quando fores mais velha.
  Mas porque é que eu não posso saber hoje?
  Porque não irias compreender. Mas um dia vais perceber, tem calma.

 

Ainda que não estivesse convencida, Francisco tinha conseguido acalmar a irmã. Não queria ser ele a explicar à irmã o que é sexo. Achava que não lhe cabia essa tarefa. Nem saberia como o fazer. Isso são coisas que se aprendem na escola, nas conversas com os amigos, ou na televisão. A SIC, o terceiro canal, passa algumas coisas picantes a horas tardias e naturalmente Mariana haveria de se deparar com isso. Além disso haviam as novelas, as revistas e ela haveria de descobrir o sexo de forma natural, como se não falar disso é que fosse natural. É natural falar mas, é com as amiguinhas da idade dela, não com o irmão mais velho. Esse fala com os amigos e aprende o que é "esgalhar o pessegueiro", conversas que não são adequadas, no seu entender, à irmã mais nova. Além disso, se foi assim que aprendeu, porque haveria de ser diferente com a irmã? Para ele era um processo tão natural como aprender que o Pai Natal não existe. Durante muito tempo acredita-se e depois, com o avanço da idade, vamo-nos apercebendo que não existe. O sexo é igual. Não sabemos o que é e gradualmente, vamos aprendendo, descobrindo, experimentando. Mariana faria esse caminho, sem a ajuda de Francisco.

 

 

Está proibida a cópia, reprodução ou transcrição, parcial ou completa, na íntegra ou baseada em, sem expressa autorização do autor!

publicado às 09:46

A acidez do mergulho (Parte V)...

por Tomates e Grelos, em 11.12.14

A caminho do escritório, não consegue disfarçar o pensamento. Aquela proposta de Joana provoca-lhe um arrepio de cada vez que pensa nela. Começa no seu centro nevrálgico e espalha-se como um tremor de terra, por todo o corpo até se desvanecer na ponta dos dedos. A realidade é que a sua vida sexual andava demasiado parada para quem tantas aventuras já se tinha permitido, principalmente na altura da faculdade, muitas na companhia da própria Joana, sem dúvida a sua melhor amiga e quem melhor a conhecia. É verdade que Rodrigo, o marido, era o seu cúmplice mais perfeito mas, houve aventuras que nunca lhe confidenciou e que Joana tinha sido membro integrante. Embora não contasse tudo a Joana, a verdade é que ela lhe conhecia os segredos mais íntimos. Sim, era ela quem melhor conhecia Mariana.

 

"Eu a ir trabalhar e aquela cabra a foder que nem uma maluca toda a tarde!! Mariana? O que é isto? Comporta-te! Afasta esses pensamentos. Há trabalho para fazer e o dia ainda vai a meio. Já não tens idade para falar ou pensar assim."

 

Reprimia-se sempre que possível. Um animal enjaulado não pode ser atiçado demasiadas vezes pois quando se vir em liberdade, sabe-se lá o que poderá fazer e, a Dr.ª Mariana Figueiredo era agora uma mulher de negócios e família. Não se podia dar ao luxo de libertar o seu animal sexual sob o risco de não o dominar.

 

"Como será que ela os abordou depois de eu ter saído? Descarada como é, nem deve ter tido vergonha. Aposto que ainda gozou com eles antes de lhes satisfazer os desejos. Vaca. Estou mesmo a vê-la passar a mão no interior da coxa de um deles, bem junto ao sexo, enquanto fixa o olhar no outro, só para lhes ver o pau crescer dentro das calças. Será que ela os levou para casa? Nahh...deve tê-los obrigado a ir para um motel, de certeza. Caidinhos como eles estavam, até champanhe lhe pagam se ela assim o entender. Foda-se, que tesão que aquela mulher é. Ahhh...que saudades de me..."

 

Por entre pensamentos de luxúria, apercebe-se que já está no escritório.

 

"Concentra-te Mariana. Concentra-te!"

 

- Boa tarde Marília.
- Boa tarde Drª. O senhor André Gonçalves já está à sua espera.
- Quem?
- O representante da L'Oréal...
- Ah, sim, claro. Mande-o entrar daqui a 2 minutos, preciso de abrir as vendas primeiro.
- Com certeza Drª.

 

Mariana não era mulher de deixar o acaso decidir o seu destino, muito menos nos negócios. Consciente que o mundo ainda é dos homens, sabe que a preparação é chave essencial para que a respeitem, enquanto mulher e gestora. Pode ganhar 1000 vezes mas, basta uma derrota para que a desacreditem. Imbuída do lema "a grande cautela não causa dano", fez uma última revisão às vendas e compras dos produtos que o senhor André Gonçalves representava e pediu à Marília que o mandasse entrar.

 

"Estou tão molhada... Será que se sente o cheiro do meu tesão?"

 

- Boa tarde D.ª Mariana.
- Boa tarde André, como está?

 

André Gonçalves vestia sempre um fato impecável e apresentava-se sempre no seu melhor. Mariana não se recorda de alguma vez o ter visto descomposto, despenteado ou até mesmo sem apresentar um sorriso. Um sorriso que usava para tentar desarmá-la nas negociações mais difíceis e que Mariana sabia contornar, ainda que às vezes preferisse não fazê-lo, como quem não resiste a espreitar por uma porta que diz "privado" ou "staff only". Homem alto, ostentava uma barba curtinha que lhe conferia um aspecto rebelde. Um bad boy de Hugo Boss e olhos castanhos, cabelo ligeiramente desgrenhado, apenas o suficiente para não ser penteadinho.

 

"Estás diferente hoje. Estás mais...apetecível! Ainda por cima vens de saia. Não sei se és tu ou deste calor mas, essa secretária combina lindamente contigo debruçada nela. Agarrem-me que um dia destes não me controlo!"

 

- Bem, obrigado. Mas estaria melhor se a L'Oréal me desse mais margem para trabalhar.
- Ó D.ª Mariana, não diga essas coisas que isso até lhe fica mal.
- O André sabe bem que é verdade.
- O que eu sei é que a Mariana já tem uma margem acima da sua concorrência.

 

Mariana não sabia estar à defesa e não perdia uma oportunidade para atacar. Era implacável no que dizia respeito à sua empresa. O sangue suor e lágrimas investido era-lhe demasiado precioso para permitir uma brecha, uma oportunidade à passagem de uma bala que a pudesse ferir. Sabia que a família sofria um pouco com o que isso implicava em termos de tempo e disponibilidade mental. A família...e Mariana.

 

"Meu Deus, um dia ainda perco a cabeça por causa deste homem. Porque é que ele não deixa crescer uma pança ou, vem aqui de fato de treino? Ele não pode, sob circunstância alguma, perceber o meu estado de excitação. Ai, mas era tão bom...eu deitava-me na secretária e puxava-te para dentro de mim. Ias ver o que é foder!"

 

- André, eu não quero uma margem acima da minha concorrência. Eu quero "A" margem. Eu quero que a Smartbuy seja o revendedor de referência da L'Oréal! Quero representar a gama completa, mesmo os produtos menos rentáveis, disponibilizando espaço em armazém para stock e, para isso, quero "A" margem.
- Bem, não estava à espera de ter esta conversa hoje mas, agrada-me esse entusiasmo.

 

André era bom de improviso. Não se deixava enganar e nunca passava a ideia de que não sabia do que falava. Para ele, o "não sei" não existia e o "isso não é comigo" era uma ofensa. É verdade que não tinha autoridade para tomar uma decisão daquele género mas, a mera oportunidade de estar no epicentro de um acordo deste tipo, era aliciante o suficiente para que desse esperanças a Mariana. Associar-se à solução e não ao problema, era a sua forma de estar. Neste caso, tinha ainda o aliciante de poder "lucrar" de outra forma. Apesar da sua postura nos negócios não lhe permitir misturá-los com prazer, Mariana ela daquelas mulheres por quem estaria disposto a quebrar a sua própria regra.

 

- Com base no que me está a transmitir, penso que podemos trabalhar este projecto de forma a chegarmos a um acordo que seja benéfico para ambas as partes. Claro que preciso de tempo para apresentar a proposta internamente e verificar junto da direcção comercial as condições que podemos oferecer.
- Claro que sim, não estou à espera de uma decisão imediata.
- Óptimo! Sendo assim, passemos aos assuntos que nos trazem aqui hoje.
- Tenho aqui umas notas de débito...(blá-blá-blá)...queria que me ajudasse com as quebras...(blá-blá-blá)...preciso de encomendar...
- Deixe-me só validar...(blá-blá-blá)...terei de analisar com o departamento de qualidade...(blá-blá-blá)...vamos já tratar disso...

 

Negócios, negócios, negócios...nem os olhares penetrantes que André lançava, desarmavam esta mulher. Parecia impenetrável. Não conseguia deixar de imaginar como seria possuí-la. Tinha uma tendência para imaginar que as mulheres mais controladas eram aquelas que mais prazer poderiam produzir. Claro que esta teoria não tinha qualquer fundo de verdade mas, na realidade, o que não temos é aquilo que mais queremos e André era um homem discreto e distinto. Não gostava de coisas explícitas. Não era assim que seduzia.

 

"Que olhar meu Deus, que olhar. Este homem mata-me com este olhar. Porque é que ele não se limita a olhar? Porque é que ele tem de me penetrar com ele? Hoje não André, hoje não! Rodrigo, Rodrigo, Rodrigo. Tomás, Tomás, Tomás. Margarida, Margarida, Margarida."

 

- Bem, está tudo por hoje. Vou dar seguimento ao que falámos no início e depois digo alguma coisa.
- Façam a vossa melhor proposta a ver se levamos esta parceria a bom porto.
- Com certeza.

 

Despedem-se com um cordial aperto de mão.

 

"Vai-te embora tentação."

 

A porta fecha-se e a tentação fica do lado de fora. Do lado de dentro, uma Mariana em brasa delira, febril de uma temperatura interior que mal a deixa raciocinar. Tem de se concentrar e só há uma forma: deitar todo aquele tesão para fora.

 

"E se aparece alguém? E se alguém me houve? Já sei!"

 

Aguenta mais uns segundos para não se cruzar com André no corredor e sai.

 

- Marília, venho já. 5 minutos.

 

O WC é já ao fundo do corredor. Privado. Impenetrável. Só terá de abafar o som. O passo acelerado denuncia-lhe a pressa. Sente-se desengonçada, como se não soubesse caminhar. Há muito que (não) se encontrava neste estado de excitação. Não ao ponto de fechar a porta do WC por dentro, subir a saia, baixar a cuecas, apoiar-se com uma mão no lavatório, abrir as pernas e espalhar todo o tesão com os dedos pelo clitóris. Completamente encharcada, penetra-se com um dedo. Flashes de André no seu escritório passam-lhe pela mente. Dois dedos. Imagina como será o sexo dele. Enfia os dedos até ao fim, precisa de se sentir preenchida. Assume que é ele que a penetra. Não mais os tira de dentro de si e apenas os mexe. Tem de o sentir dentro de si. Aperta o lavatório como se este fosse o culpado disto tudo e o corpo contrai-se involuntariamente. Uma vez. Duas vezes. Vários espasmos consecutivos. Uns abafados "uhhh"s não são contidos. Não há problema, não há ninguém a ouvir. Retorna à realidade à medida que o corpo relaxa. Sente um alívio que a deixa bem mais leve. É só preciso recompor o fôlego e retocar a maquilhagem. Pronta para o resto do dia! Abre a porta e congela!

 

"Como?"

 

 

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publicado às 09:53

A acidez do mergulho (Parte IV)...

por Tomates e Grelos, em 31.10.14
- Estava a ver que não chegavas gaja.
- Desculpa querida. O cromo da Sumol estava chato como o caraçaas, raio do velho.
- Esse não é aquele seboso que te lambuza toda quando dá beijos?
- Nem me fales...uhggg...eu bem que estendo a mão mas o homem não percebe uma indirecta.
- Se fosse o da L'Oréal, não fazias esse esgar...aposto que até te lambuzavas de propósito.
- Não sejas parva. Sabes bem que era incapaz. Adoro o Rodrigo e além disso tenho dois filhos para cuidar.
- Disseste "adoro"...
- O quê?
- Disseste "adoro"...não disseste "amo".
- Ora...uhh...é uma forma de falar, sei lá. Adoro, amo, é tudo a mesma coisa.
- Talvez...talvez...mas tu não costumas "enganar-te" dessa forma!
- Houve lá, quem eram os abutres?
- Isso, desconversa que eu gosto... Mariana, Mariana...o que é que não me andas a contar? Eu conto-te tudo sobre as minhas aventuras e tu não me contas que andas a "comer fora de casa"? Magoei...
- Deixa-te de coisas. Tenho lá eu sequer tempo para pensar em aventuras?
- Ham-ham...estou-te a ver. Amiga, conheço-te desde a faculdade e sei bem que tu não te importavas de dar uma voltinha no da L'Oréal, desde que ninguém soubesse. E serias parva se pensasses de outra forma, já sabes que eu aprovo.
- Não seja parva. Que raio de conversa. Diz lá quem eram os abutres.
- Eu vou-te fazer a vontade desta vez, mas que aí há gato, há. Eram aqueles daquela mesa do canto. Estavam os dois a galar-me a pernas.
- Pois...e agora continuam e incluiram-me a mim. Porque é que não mudaste de mesa?
- Porque eles nem são feios e apetece-me provocar!!
- Eu já devia saber que era tudo conversa ao telefone...tu não mudas mesmo.
- Já me conheces. Além disso tenho a tarde livre...
- Então? Tens folga?
- Sim gaja, já te tinha dito que os horários tinham alterado e que agora passo a folgar à tarde, semana sim, semana não.
- Desculpa querida, tenho tido tanto trabalho que nem me apercebi. Desculpa.
- Deixa lá tonta, não há stress. Também não é importante.
- É importante porque contaste e eu nem fiz caso. Mas não foi por mal...
- Oh pá, mas tu fazes o favor de acabar com essa conversa das desculpas? Desde quando precisamos disso?
- Tens razão. Em frente.
- Frente...trás...de lado...era uma tarde em grande!
- És tão tarada. Nossa senhora!!
- E tu não, queres lá ver...
- Já fui mais. Depois de casar e ter filhos, tudo muda.
- Cala-te...vais dizer qe o teu apetite diminuiu?...
- Não...não acho que tenha diminuido...terá quase desaparecido porque nem tempo tenho para pensar nisso.
- Cala-te...não posso crer. Amiga, não sabia que estava assim tão mal.
- Não está mal nem bem...é a vida como ela é.
- Eu recuso-me a acreditar que te estou a ouvir dizer isso. Mariana, eu conheço-te e conheço o teu apetite sexual. Desde quando te tornaste num vegetal?
- Também escusas de ser bruta, fogo.
- Agora sou eu que peço desculpa mas, já não te reconheço. Eu não me esqueci daquelas noites de faculdade, onde tu própria propunhas experimentarmos coisas novas.
- Joana, isso já lá vai, ficou no passado. Já não vivemos nesse tempo. O tempo agora, pelo menos para mim, é de me dedicar ao trabalho e há família. Foi bom? Claro que sim. Foi óptimo até! Terão sido os melhores tempos da minha vida. Muita diversão, muita loucura mas, agora tenho responsabilidades que não posso negligenciar.
- Linda, eu não sou exemplo para ninguém nem pretendo sê-lo mas, tens de existir por entre todas essas ramificações do dia-a-dia. Por entre Marido, Filhos e Trabalho tem de haver lugar ao sexo, ao prazer, ao lazer, etc.
- Queres dizer por entre Filhos e Trabalho, não?
- Já sabes que não sou mehor de um homem só, por isso...
- E eu que por momentos te levei a sério...
- O que tu estás a precisar, é de desentupir os canos, LOL.
- És tão parva...
- Se quiseres, eu até ajudo...tiras a tarde e temos companhia, que aqueles dois estão cada vez mais doidinhos...
- Oh, deixa-te de coisas. Vá, vamos pedir o café que eu tenho de me ir embora.
- Não sabes o que perdes...

 

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publicado às 14:23

A acidez do mergulho (Parte III)...

por Tomates e Grelos, em 13.10.14

Mariana gosta de saias e, como mulher confiante que é, não se inibe de as usar, a menos que saiba que vai estar na presença de homens que não sabem o seu lugar. Aí, previne-se e não abdica do fato. Enquanto executiva, não há quem atreva a desafiá-la e, sente que todos lhe tomam muito mais respeito. Não obstante, toma a brisa marítima por entre as pernas, sempre que pode.

 

Hoje decidiu ir almoçar ao shopping. A Joana disse-lhe que havia lá um restaurante novo muito simpático e, a facilidade de estacionamento ditou o derradeiro argumento. Assim sempre fugia à rotina, embora não dispensasse uma refeição bem cozinhada. A reunião das 11h com o fornecedor tinha-se atrasado imenso e a Joana já lhe estava a ligar. Estou mesmo a chegar Joaninha, mais 5 minutos - ditou ela para o telemóvel. És sempre a mesma coisa - respondeu a Joana. Vê lá se te despachas que já estão aqui uns abutres a mirar-me e, se não chegas depressa, ainda começam a dar bicadas - atirou ela sempre desbocada. 5 minutos, beijinhos, beijinhos - e desligou. Joana era aquela a quem Mariana não tinha problema em contar ou comentar fosse o que fosse. Dela, esperava sempre um comentário espirituoso, honesto e descomplexado. Podia falar da coisa mais sagrada do mundo mas, a Joana era a Joana e nada era sagrado para ela. Acelerou o passo, até porque tinha outra reunião agendada para as 14h mas, os saltos não permitiam grandes aventuras, muito menos nas escadas rolantes, onde chegou. Com a impaciência de que vê o tempo fugir por entre os minutos que se transformam em horas, olha para cima, como se isso a fizesse chegar mais depressa ao topo. Momento instantâneo onde se vê transportada para o passado. Como é possível que, passados tantos anos, tal situação se repita e, ainda por cima com homens que mais parecem crianças? Sensivelmente a meio das escadas, dois amigos não se coíbem de comentar e trocas piadolas sobre a senhora que vai mais acima, de saia curta de mais para aquelas escadas. Será que quando vão à praia também fazem este festival? - pensou ela. É que nem são capazes de disfarçar. Que fascínio pelo desconhecido que eles têm. Realmente, quanto menos se mostra, mais eles querem ver. Os nossos avós é que sabiam a lição, tudo bem tapadinho que, basta um tornozelo para atiçar o animal. Sejamos realistas, mesmo que ela levasse um fio dental, não viam nada de mais. É mesmo só pelo gozo de estarem a ver algo que não era suposto. É isso que excita realmente um homem? Ou isso será demasiado crédito para tão básico animal sexual?

 

Acorda da torrente de pensamentos no topo da escada e apercebe-se: veio de saia. Com a mesma velocidade com que se apercebe que alguém poderia estar a fazer o mesmo tipo de comentários sobre ela, se despreocupa e, até espera que sim, que espreitem, que aproveitem. Sente-se bem, confiante, o arrepio de fazer algo que não devia deu-lhe uma injecção de adrenalina e tesão, apenas interrompida pela chegada ao restaurante.

 

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publicado às 16:21


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