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Venham os tomates, venham os grelos! São todos bem vindos. Descontraiam, estejam à vontade que, este é um espaço de prazer.
"Que barulho é este?" - pensou.
O medo paralisou-a. O que se estaria a passar? Encolhe-se. Estaria alguém por ali perto? Treme com a possibilidade. E o pai e a mãe? Espreita para fora dos lençóis. Será que não ouvem nada? A cabeça já de fora. E se forem ladrões? Aninha-se.
"Mariana, já tens 12 anos. Caramba, já não podes andar com medo de monstros de baixo da cama." - vociferou mentalmente. "Se há alguém cá em casa, temos de ir acordar o pai. Ele safa-nos desta, de certeza. O paizinho é capaz." - decidiu-se.
Lentamente, destapou-se. Rodou o corpo até estar deitada de lado e esperou alguns segundos. Ergueu-se e ficou sentada na cama, até ter certeza que os ladrões não a tinham ouvido. Pôs os pás no chão, calçou os chinelos e levantou-se. As molas rangeram e temeu pela sua vida. Nada. Os barulhos continuavam. À medida que se aproximava da porta do quarto, os barulhos tornavam-se mais nítidos, ainda que continuassem abafados. Não são passos, concluiu.
"Alguém deve andar à procura nas gavetas dos papéis do pai." - teorizou. "Eu já o ouvi falar desses bandidos que tentam fazer mal aos outros, só porque temos dinheiro." - assumiu.
Encosta a cabeça à porta, entreaberta, e escuta...
"Não são papéis... Que estranho! Vem do quarto da mamã."
Menos amedrontada, reconhece o barulho.
"Então, isto é o mesmo barulho que o meu colchão fez quando eu me levantei." - aliviou-se. "Porque é que eles haveriam de estar aos saltos na cama a esta hora? Eu não posso, e eles esperam que eu vá dormir para o fazerem!" - sentiu-se injustiçada. "Só há uma coisa a fazer: confrontá-los. Isto assim não vale." - decidiu-se. "O paizinho é que pode ficar chateado...e se fico de castigo?" - ponderou.
Atrevida, decidiu avançar, ainda sem saber bem o que fazer. Pé ante pé, foi ficando mais próximo do quarto dos pais. Era notório, à medida que avançava, que não estavam só a assaltar em cima da cama. Estavam claramente a fazer barulho também, porém abafado, estranho, imperceptível de distinguir entre dor ou prazer. O mistério adensava-se e Mariana estava determinada em resolvê-lo. Já tinha dobrado a esquina do seu quarto e estava agora no corredor comum, com acesso a todos os outros quartos. Estava escuro, mas havia alguma visibilidade permitida pela noite de luar, que se fazia notar através da janela horizontal superior, o que fazia com que se pudesse movimentar sem tropeçar ou bater nas paredes. Como de costume, a porta do quarto dos pais estava entreaberta. Nunca a fechavam e não permitiam aos filhos que o fizessem. "As portas cá em casa não têm chave." - dizia sempre o Dr. Figueiredo, com voz autoritária que ninguém se atrevia a desafiar. Mariana tremia, num misto de medo e de curiosidade, sem saber o que esperar, com medo de ser apanhada, desejosa de desvendar o mistério. À medida que se aproximava, o barulho tornava-se mais claro, mais nítido, mais distinguível.
"Gemidos?" - indagou incrédula.
Não teve coragem de espreitar. Os pais estavam claramente acordados e qualquer movimento na porta seria razão suficiente para ser apanhada. Aqueles gemidos abafados eram estranhos mas ao mesmo tempo interessantes. Entranhavam-se. Não eram de dor, eram de alguém que está a gostar do que está a fazer, de divertimento, à falta de melhor vocabulário em idade de pré-adolescência.
"O que é que eles estarão a fazer?" - a sua mente fervilhava de curiosidade.
Se pudesse, irrompia pelo quarto adentro e acendia a luz de repente. Que raio estariam eles a fazer, que era divertido e que se assemelhava a alguém a saltitar em cima da cama?
"Mariana!" - sussurrou Francisco. "Mariana!" - repetiu.
Mariana quase denunciava a sua presença, tal era o susto que acabava de apanhar. Por entre gestos, perguntou ao irmão o que é que ele queria. Ele olhou-a de soslaio e com ar ameaçador, transparecendo claramente a sua ordem. Mariana, apesar de desafiadora, nem esboçou reacção. Pé ante pé, retomou pelo mesmo caminho que a trouxe. Não se pense por um segundo que isso fez com que a sua curiosidade se tivesse alterado. Muito pelo contrário. Estava ainda mais aguçada. Fitava o tecto e não parava de pensar no que é que Francisco saberia a mais que ela. Sim, o irmão era a chave para deslindar este mistério e, ele que não pensasse que ela se iria esquecer.
Manhã. Levantou-se a correr para o pequeno-almoço, na esperança de se encontrar com o irmão mas, ele já tinha saído para a escola. Logo hoje, logo hoje tinha de começar as aulas antes dela. Não interessa, na escola não lhe escapava.
Procurou-o logo no primeiro intervalo que teve oportunidade.
- | O que é que se passou ontem? O que é que o Pai e a Mãe estavam a fazer? |
- | Nada da tua conta. |
- | Quero saber? |
- | Não são coisas que tenhas de saber. |
- | Mas eu quero. Eles estavam a divertir-se aos pulos na cama, que eu bem ouvi |
Francisco não se conteve na reacção e riu-se perdidamente, o que apenas serviu para enfurecer ainda mais Mariana. Era mais nova que Francisco mas nem por isso se coibia de o desafiar, sempre que achasse que existia margem, mesmo que muito reduzida.
- | Vais-me contar ou tenho de ir perguntar ao Pai e à Mãe? |
- | Não te metas em coisas que não são para a tua idade. |
- | Mas eu quero saber! |
- | Um dia vais saber, mas não hoje. |
- | Quando? |
Quando fores mais velha. | |
Mas porque é que eu não posso saber hoje? | |
Porque não irias compreender. Mas um dia vais perceber, tem calma. |
Ainda que não estivesse convencida, Francisco tinha conseguido acalmar a irmã. Não queria ser ele a explicar à irmã o que é sexo. Achava que não lhe cabia essa tarefa. Nem saberia como o fazer. Isso são coisas que se aprendem na escola, nas conversas com os amigos, ou na televisão. A SIC, o terceiro canal, passa algumas coisas picantes a horas tardias e naturalmente Mariana haveria de se deparar com isso. Além disso haviam as novelas, as revistas e ela haveria de descobrir o sexo de forma natural, como se não falar disso é que fosse natural. É natural falar mas, é com as amiguinhas da idade dela, não com o irmão mais velho. Esse fala com os amigos e aprende o que é "esgalhar o pessegueiro", conversas que não são adequadas, no seu entender, à irmã mais nova. Além disso, se foi assim que aprendeu, porque haveria de ser diferente com a irmã? Para ele era um processo tão natural como aprender que o Pai Natal não existe. Durante muito tempo acredita-se e depois, com o avanço da idade, vamo-nos apercebendo que não existe. O sexo é igual. Não sabemos o que é e gradualmente, vamos aprendendo, descobrindo, experimentando. Mariana faria esse caminho, sem a ajuda de Francisco.
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